quinta-feira, 23 de maio de 2013

Para lá das grades

Esta semana, voltei a fazer sessões no Estabelecimento Prisional de Pinheiro da Cruz. Com estes encontros de mediação de leitura, não pretendo defender ou dar regalias aos reclusos, mas antes defender e proteger a própria sociedade, valorizando os presos como seres humanos, dignificando-os dentro da prisão, pois só dessa forma a sociedade poderá vê-los recuperados e a reincidência reduzida. Além disso, a prisão não é um instrumento de vingança, mas sim um meio de reinserção mais humanitária do indivíduo na sociedade.

Enquanto mediadora de leitura no contexto prisional, poderei ter um papel determinante na vida dos reclusos com quem trabalho, uma vez que serei o elo de ligação com o mundo exterior com o qual os presos não têm contacto e sobre o qual poderão até ter pensamentos e sentimentos muito negativos pelas experiências vividas anteriormente. Como tal, poderei ter um papel apaziguador e reconciliador, fundamental para a auto-estima e auto-realização dos reclusos, sendo estas propulsionadoras de um comportamento futuro socialmente mais adaptado e adequado da parte destes indivíduos.

Afinal, são seres humanos como nós e têm o mesmo direito à cultura e aos livros!!!

Nas sessões desta semana, os reclusos tiveram a oportunidade de falar e ler Poesia... escreveram um poema colectivo com a minha ajuda...

Sentei-me à janela e pensei
Na realidade que nos absorve
Absorve ainda e de tal forma que me leva a descobrir quem sou
Quem sou, quem fui, quem hei-de ser... Só sei que quero vencer
E acreditar
Acreditar na certeza de um futuro melhor
Melhor do que hoje
Hoje é certamente melhor do que o amanhã
O amanhã poderá ser o finito
Que define a perpétua incerteza da existência
Existência ou não?... Da janela onde me sentei e pensei
Pensei que tenho de acreditar para conseguir avançar
Sem perder esperança
Esperança, essa amiga que nos percorre a alma
Alma que nos atormenta e nos inspira
Num turbilhão de emoções e pensamentos.

E viram o filme Florbela de Vicente Alves do Ó... porque a liberdade começa em nós.


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