segunda-feira, 27 de maio de 2013

O que é a Poesia?



A Poesia é um género literário muito rico que nos transporta para um mundo diferente, onde podemos sonhar, reflectir e viver. Sim, porque a Poesia é, muitas vezes, o espelho da alma do seu autor, mas também do ser humano que se dedica ao prazer da sua leitura. A verdadeira mensagem só o poeta a conhece, só ele sabe porque usou determinada palavra, enfim, só ele sabe explicar porque modelou o texto poético daquele modo... mas a pluralidade de significações atribuídas pelos leitores contrói um puzzle que enriquece a Poesia… aos leitores não compete explicar o poema, mas sentir e desfrutá-lo…

Mas sabem que todos nós podemos fazer Poesia? Através da técnica "spoken words", podemos criar belos poemas, contar excelentes histórias e levar as outras pessoas a um estado de contemplação... Também sei que todos vão dizer que não têm jeito para poemas, nem para escrever e nem tão pouco talento para falar em público coisas tão belas.

Então, tenho hoje um desafio para todos vós... e todos, sem excepção, vão ser capazes de fazer... e, no fim, vai ser extraordinário como algumas histórias são comuns, outras opostas e ainda outras se complementam.

O desafio é fazer uma lista... a lista sobre "As 10 coisas que eu sei serem verdadeiras".

Força!

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O Render dos Heróis, de José Cardoso Pires







O ano lectivo está prestes a terminar, mas ainda há tempo para umas últimas sessões de mediação de leitura. Acompanhei durante dois anos uma turma de Literatura Portuguesa do Ensino Secundário, várias foram as sessões que dinamizei com aquele pequeno grupo de alunos e, para fechar este ciclo, a professora solicitou a minha intervenção, com o intuito de motivá-los para a leitura da obra “O Render dos Heróis” de José Cardoso Pires, escrita sob a influência do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, pois apresenta-se como uma peça de teatro épico, que toma como ponto de partida a realidade envolvente e apela a uma atitude crítica e activa pela existência de momentos do passado que assumem um peso considerável na interpretação do presente. A motivação para a leitura desta peça de teatro, que se insere na linha do Post-Modernismo, uma vez que o autor faz uma (re)apropriação da história com distanciamento crítico, ou seja, usa os dados históricos não de forma linear, mas subversiva, com o objectivo de denunciar o esvaziamento político e as injustiças sociais, e apelar a uma participação mais activa dos populares, proporcionou momentos de debate, de troca de ideias e conhecimentos, um jogo colectivo de cultura geral, a leitura de um excerto, a intertextualidade com outros escritores (“Felizmente há luar” de Luís Sttau-Monteiro, “O Motim” de Miguel Franco” e “Perdição” de Hélia Correia) e outras formas de expressão artística, bem como a reflexão sobre as causas das actuais manifestações populares e as novas formas de protesto, o que possibilitou a audição de uma cantiga do grupo “Deolinda” e da música heróica “Acordai” de Fernando Lopes-Graça, interpretada pela cantora lírica Ana Maria Pinto. Gostei muito de trabalhar com estes jovens estudantes e a minha alma encheu-se de alegria ao ler e ouvir "Vamos todos ter saudades suas, Sofia!"... É isto que me faz feliz e sentir que nunca devo desistir de lutar pelos meus sonhos!!!

Um mundo melhor com a cultura!

A leitura é, muitas vezes, utilizada como um instrumento da psicologia para resolver conflitos e enfrentar problemas de ordem emocional, social, mental e educacional. Pode ser entendida como uma forma de libertação das emoções, uma vez que as histórias estimulam o ouvinte / leitor a desenvolver o seu imaginário, transformando as suas emoções e libertando os seus sentimentos. Através dos momentos de leitura, os leitores / ouvintes podem extrair sentimentos reprimidos, apaziguar emoções e, ao contactar com o mundo dos livros, criam uma maior interação com o meio envolvente.
Neste sentido, os momentos de encontro com os meus "amigos especiais" da CERCI tornam-se únicos e de pura partilha.

Deixo-vos um pequeno registo da dinamização de uma sessão de leitura e exploração de uma história sobre o compositor Tchaikovsky para esses meus amigos, permitindo assim uma ligação à realidade vivida pelos mesmos e o desenvolvimento de actividades de musicoterapia, de expressão dramática e corporal.


quinta-feira, 23 de maio de 2013

La Lectura...

"...leer puede que tenga el valor de hacermos más críticos, más reflexivos, más solidarios y tolerantes, más autónomos: puede dar la posiblidad de pensar por uno mismo, con lo que se convierte en herramienta imprescindible ..."
(Puertas a la lectura)

A Literatura promove a interacção, a socialização e a participação, preparando-nos para as contínuas mudanças da vida, auxiliando-nos a fomentar valores e crenças, desenvolvendo a nossa capacidade imaginativa e criadora e aumentando o nosso sentido crítico e estético. Além disso, detém um papel libertador e de tolerância. Quando lemos um livro, conseguimos compreender o melhor e o pior de um povo, de uma cultura, pois nele cabem emoções, gostos, valores, ideologias e esperanças.

Desafio-vos a dizerem-me o(s) livro(s) que mais gostaram de ler e de que forma essa(s) leitura(s) vos marcou(aram)... Aguardo os vossos comentários!

O que é ler?


Sugestão de Leitura




História de um gato e de um rato que se tornaram amigos
de
Luís Sepúlveda

“Max vive em Munique com os seus pais e irmãos - e com Mix, o seu inseparável gato preto com uma mancha branca na barriga. Amigos desde a infância, quando Max cresce e decide mudar de casa, leva Mix consigo. Mix adora viver no novo apartamento. Mas quando Max começa a trabalhar e não pode estar tanto tempo em casa, Mix, que está a envelhecer e a perder a visão, sente-se cada vez mais sozinho. Um dia, Mix ouve uns passinhos suaves vindos da despensa e descobre que há um ladrão a comer os cereais crocantes do dono. Esperto, Mix deixa-se ficar quieto e, de repente, com a rapidez de outros tempos, estica a pata e sente o corpo trémulo de um minúsculo ratinho. Mex, como é batizado, é um ratinho mexicano, muito medroso e charlatão. Mas os verdadeiros amigos apoiam-se um ao outro e juntos aprendem a partilhar o que de melhor têm dentro de si. Baseado num episódio da vida de um dos filhos de Luis Sepúlveda, a "História de Um Gato e de Um Rato que se Tornaram Amigos" oferece-nos uma vez mais uma fábula singela e divertida sobre o verdadeiro valor da amizade.”

Clarice Lispector - A Hora da Estrela

Clarice Lispector, nascida Haia Pinkhasovna Lispector, foi uma escritora e jornalista, nasceu na Ucrânia, mas naturalizou-se brasileira:

Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la.

Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre.


Visitem a exposição Clarice Lispector - A Hora da Estrela na Fundação Calouste Gulbenkian até ao dia 15 de Junho.

Para lá das grades

Esta semana, voltei a fazer sessões no Estabelecimento Prisional de Pinheiro da Cruz. Com estes encontros de mediação de leitura, não pretendo defender ou dar regalias aos reclusos, mas antes defender e proteger a própria sociedade, valorizando os presos como seres humanos, dignificando-os dentro da prisão, pois só dessa forma a sociedade poderá vê-los recuperados e a reincidência reduzida. Além disso, a prisão não é um instrumento de vingança, mas sim um meio de reinserção mais humanitária do indivíduo na sociedade.

Enquanto mediadora de leitura no contexto prisional, poderei ter um papel determinante na vida dos reclusos com quem trabalho, uma vez que serei o elo de ligação com o mundo exterior com o qual os presos não têm contacto e sobre o qual poderão até ter pensamentos e sentimentos muito negativos pelas experiências vividas anteriormente. Como tal, poderei ter um papel apaziguador e reconciliador, fundamental para a auto-estima e auto-realização dos reclusos, sendo estas propulsionadoras de um comportamento futuro socialmente mais adaptado e adequado da parte destes indivíduos.

Afinal, são seres humanos como nós e têm o mesmo direito à cultura e aos livros!!!

Nas sessões desta semana, os reclusos tiveram a oportunidade de falar e ler Poesia... escreveram um poema colectivo com a minha ajuda...

Sentei-me à janela e pensei
Na realidade que nos absorve
Absorve ainda e de tal forma que me leva a descobrir quem sou
Quem sou, quem fui, quem hei-de ser... Só sei que quero vencer
E acreditar
Acreditar na certeza de um futuro melhor
Melhor do que hoje
Hoje é certamente melhor do que o amanhã
O amanhã poderá ser o finito
Que define a perpétua incerteza da existência
Existência ou não?... Da janela onde me sentei e pensei
Pensei que tenho de acreditar para conseguir avançar
Sem perder esperança
Esperança, essa amiga que nos percorre a alma
Alma que nos atormenta e nos inspira
Num turbilhão de emoções e pensamentos.

E viram o filme Florbela de Vicente Alves do Ó... porque a liberdade começa em nós.


Quem lê, viaja!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

O que será mais importante?


Na Biblioteca



O que não pode ser dito
guarda um silêncio
feito de primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiadamente tarde,
quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,
em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,
as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.
Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema está só.
‘E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta.’ (...)

(Manuel António Pina)